segunda-feira, 20 de junho de 2011

Volta outro dia


"I hear you're feeling down"

Hoje acordei e minha velha conhecida estava sentada ao meu lado, ali no lugar que é teu na minha cama. Ela sorria aquele sorriso tranquilo de quem sabe o seu lugar. Ela é forte e ela é várias ao mesmo tempo. Ela é todas as minhas inquietações, meus medos, meus arrepios, minha febre, minhas dores, minhas lágrimas, a falta delas, minha insônia, meu sono excessivo.
Ela havia mandado dizer que estava chegando na noite anterior. Ignorei, distraí, rezei, dormi, fingi que não. Mas ela sabe o endereço e sabe as portas por onde entrar. E quando acordei ela já tinha chegado. E sorriu, e sussurrou no meu ouvido não levanta, fica na cama um pouco mais, o que há de interessante lá fora? Não precisa comer, não tem necessidade, fica aqui. Listou meus medos e os reforçou. Não é boa que chega, inteligente o bastante, nada interessante. Não merece o que é bom. Me lembrou do meu medo de amar e do medo do amor ser apenas ilusão. Do pavor da da mentira, do engano e do abandono.
Se mostrou com rostos que me são queridos, com outros que me causam desconfiança, e com o teu que sempre me sorri. E em todos me mostrou mentiras e ameaças, traição e sarcasmo. Me contou histórias que me assustam, plantou desconfiança e tristeza.
E, quando mais uma vez ela sussurrou dorme só mais um pouco, e eu puxei o edredon e estava fechando os olhos, resolvi que hoje não. Já mandei essa metida cruel embora tantas vezes. Por que não mais uma vez, não é? Eu não preciso acreditar nas coisas que ela me diz. Prefiri acreditar em mim e no teu sorriso doce ao dizer que me ama. 
Acendi a luz e mandei ela voltar outro dia. Disse dá licença que hoje preciso viver.

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