sexta-feira, 19 de junho de 2009

Disfarce


Essa semana, deitada no sofá de bobeira olhando tv, algo que um personagem de seriado falou me chamou a atenção. Não lembro as palavras exatas, mas ao ver uma mulher de salto alto e bico fino, ele disse que ela deveria ser muito insegura em relação à si mesma para se sujeitar a trabalhar o dia todo usando algo tão torturante, para causar impressão.
Parei e pensei em tantas mulheres, e em mim mesma, que tantas vezes me equilibrei o dia todo em cima de um salto, mesmo me sabendo competente no que fazia, e sabendo que na realidade é isso que importa. Mas em alguns dias, isso pareceu e ainda parece indispensável.
Na verdade, isso não passa de um disfarce. Para sentimentos, tristezas, e sim, inseguranças. Porque, talvez assim, ninguém vá suspeitar que você, aquela profissional competente, bem vestida, aparentemente tão certa de si, morre de medo do fim do dia. Da hora de chegar em casa e dar de cara com a mesma vazia. Ao mesmo tempo que suspira o alívio de tirar aquele salto que acabou com seu pé, suspira pelo fato de estar sozinha. O telefone não toca, a cama parece grande demais e o silêncio grita tão alto que dói. Aí você deixa sair aquela "outra" que esteve escondida o dia inteiro atrás dessa máscara. E essa outra fica ali, jogada na frente da tv, de moletom, pantufas, certa de que ninguém a verá assim, e que ninguém sabe da existência dela. Jamais alguém imaginaria que a mulher poderosa que encarou o dia todo num salto matador, não tem nada melhor pra fazer, ninguém esperando por ela, nem uma festa, nada, nada mesmo...
Enfim, pela manhã, a "outra" acorda, olha no espelho, se acha um lixo, e convoca a "poderosa" a assumir seu posto, para mais um dia de trabalho. E quem sai de casa, não é a outra. E sim, uma mulher maravilhosa, parecendo muito bem obrigada. Sou linda, bem sucedida. Nada de errado.

O que eu estava fazendo mesmo, quando tive idéia pra escrever isso??? Nem me lembro.


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